Autoconhecimento e o aprimoramento da ideia de mundo

Cada um cria um mundo particular para si. Parte desse mundo, que tende a ser compartilhado, é o mundo objetivo, que é explicável ou convencionado por sistemas legitimados no coletivo, que buscam aprimorar a perspectiva de melhor interpretá-lo. Parte é subjetivo, próprio, individual, resultante do modo que o indivíduo sentiu as suas mais significativas experiências.

O desafio do humano é aprender a lidar com pessoas que possuem ideias de mundos muito diferentes da sua, gerando intensos conflitos.

Mas, qual ideia de mundo é correta, se parte dela é subjetiva? Como se constrói uma ideia de mundo?

Quando desenvolvemos o autoconhecimento, aprendemos a compreender como a nossa ideia de mundo foi concebida. As condições que tínhamos, as pessoas que nos influenciaram, a época em que se estabeleceu um determinado conceito. E, se o conceito estabelecido não estava “contaminado” com um outro conceito que o distorcia. Enfim, com autoconhecimento aprimora-se a própria ideia de mundo, aproximando, ao máximo possível, o mundo objetivo do subjetivo, sendo, paradoxalmente, a maneira de se lapidar a própria individualidade.

Autoconhecimento e a memória

Segundo Iván Izquierdo, “Memória” significa aquisição, formação, conservação e evocação de informações. Sendo, o acervo de memórias de cada um, o fator determinante da personalidade. E, memórias são moduladas pelas emoções, pelo nível de consciência e pelos estados de ânimo. Ressalta, que também somos aquilo que resolvemos esquecer, contudo, nosso cérebro “lembra” quais são as memórias que não quer trazer à tona, e evita recordá-las. Mas, de fato, não as esquece, pelo contrário: as lembra muito bem e muito seletivamente, no entanto, as torna de difícil acesso.

Ao fazemos autoconhecimento, infere-se, que buscamos trazer à consciência, pela vontade e uso pontual da racionalidade, alguma memória modulada por uma emoção não agradável, mantida em difícil acesso, que possa ter emergido, devido a algum estímulo desagradável, produzindo uma emoção defensiva, em milésimos de segundos, que projetamos em algo ou alguém.

O primeiro desafio é identificar a memória. Após, busca-se ressignificá-la, raciocinando com informações mais relevantes do que aquelas que a construiram, possibilitando retirar o tom emocional. Assim, com técnica, evita-se produzir, no presente, interpretações submetidas aos constrangimentos do passado.

Autoconhecimento e o senso crítico

Um líder deve atuar com um senso crítico calibrado, para se posicionar. A questão é: qual a aferição da percepção? Compreende ou julga, simplesmente, sem compreender?

Posicionar-se com isenção, exige uma boa dose de autoconhecimento. O fato de não se gostar de algo, não significa que não serve ou que não deva ser aprovado. É necessário analisar-se, quando há alguma emoção desconfortável junto à percepção. Identificar a mistura do passado no presente, através da semelhança de contextos ou de personagens, é o grande desafio da mente que busca  autoconhecimento.

Autoconhecimento e a empatia

Empatia é colocar-se no lugar do outro. Contudo, é possível que, mesmo no papel de líder, haja situações em que realmente um indivíduo não se importe com o outro, quando este o desagrada ou o rejeita. Por hipótese, este tipo de comportamento foi o modo como aquele que ocupa a posição de líder aprendeu a se defender, quando não fora aceito, em algum contexto de sua vida.

No entanto, um líder precisa sentir empatia pelos liderados para poder desenvolvê-los. Mas como desconstruir a falta de empatia, quando há real desinteresse pelo liderado? O que o líder infere que o liderado pensa dele?Que memória foi ativada?

O caminho é buscar identificar qual a situação vivida, anteriormente, que formatou este jeito de reagir defensivamente, aproveitando a oportunidade de autoconhecimento. Para disponibilizar-se a educar o outro é necessário acolhê-lo, sem preconceito.