A quem serve as certificações profissionais?

Como em tudo na vida, também no mundo da gestão empresarial quanto mais simples melhor. A simplicidade amplia a chance de adoção das boas práticas de gestão, tende a evitar problemas decorrentes de burocracia desnecessária, facilita a comunicação entre os gestores e seus interlocutores, entre outros benefícios. Mas simplicidade não pode ser confundida com falta de método, ou falta de qualquer nível de burocracia (existência de regras, documentação de processos e procedimentos, registros, etc.). Nesse contexto, a ação gerencial simples deve ser entendida como objetiva, ágil, com economia de tempo e recursos, que leve a resultados efetivos.

certified_professionalPor outro lado, existe um negócio em franco crescimento, o das certificações profissionais, que parece depor contra a simplicidade. Não que, em certas situações, a certificação não seja desejada, necessária, talvez imprescindível (não é a intenção discutir esse mérito aqui). Mas como regra geral, perseguida por todos os profissionais da gestão que precisam aplicar as boas práticas, ou deles exigida, está mais para uma questão de mercado (leia-se comércio) antes de uma necessidade.

Isso fica bem evidenciado ao olharmos pelo ângulo do campo histórico do uso de boas práticas de gestão, portanto o dos profissionais que as trouxeram até aqui. Por exemplo, na área da gestão de projetos, hoje em dia, ou você é um profissional certificado ou não é ninguém. Mas a gestão de projetos já existia, e funcionava muito bem quando corretamente aplicada, sem toda a burocracia criada (penso eu) muito mais em nome da certificação do que de uma aplicação eficiente. Do mesmo modo, o gerenciamento de processos, uma expressão moderna para o chamado gerenciamento da rotina consolidado com o movimento da Qualidade Total ainda no início dos anos 60 do século passado, entrou na pós-modernidade como Business Processes Management (BPM) e parece que vai indo pelo mesmo caminho de burocracia exagerada, completamente desnecessária para sua efetiva aplicação, mas muito conveniente ao processo da certificação profissional.

Obter uma certificação implica, no mínimo, submeter-se e ser aprovado em algum tipo de exame. Em muitos casos, se ainda não em todos parece que essa é a tendência, antes de se submeter ao exame os candidatos – mesmo aqueles com vasta experiência comprovada na área – devem frequentar um curso (normalmente ministrado pela entidade certificadora). Henry Mintzberg, referenciado especialista em gestão empresarial, costuma dizer que não se aprende gestão em sala de aula, mas sim pela prática. Levando essa afirmação ao nível do negócio de certificações, do mesmo modo, é possível afirmar que não se aprende a aplicar boas práticas de gestão em manuais (books of knowledge) ou cursos preparatórios para certificações.

Claro que o conhecimento sobre ferramentas e métodos gerenciais pode e será compartilhado a partir de manuais e em sala de aula ou outros fóruns de troca de experiências. Contudo, não basta o conhecimento (atestado por um certificado), esse deve somar-se a habilidades na aplicação do ferramental técnico, o que se dá com a prática repetitiva. E mais, também não basta dominar técnicas, há que se desenvolverem habilidades interpessoais, competências comportamentais, como comunicação assertiva, capacidade e curiosidade investigativa, tolerância e jogo de cintura diante de resistências, “malandragem” (no bom sentido) para ajustar a ferramenta ao caso, imprescindíveis em certas situações, o que só vem com o exercício recorrente e o enfrentamento de situações adversas.

O que quero enfatizar com esta discussão, provocada pela questão inicialmente colocada “A quem serve as certificações profissionais?”, é que a ênfase não pode recair sobre os meios, mas sim sobre o fim, sobre o resultado a ser obtido com uma aplicação produtiva das boas práticas. Os meios, particularmente num ambiente de competição extrema, precisam ser eficientes. Ou seja, devem atender a aspectos de menos burocracia, menos gasto de tempo, menos ocupação de pessoas, facilidade de documentação, e por aí afora. Mas tenho a percepção de que em nome da certificação, muita burocracia desnecessária tem sido criada… Ou não??? Fica a reflexão…

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Sobre Robin Pagano

Pensador, palestrante e consultor sênior em Estratégia, Gestão e Inovação de negócio. Mestre em Eng. de Produção - UFRGS; Pós-graduado em Estudos de Políticas e Estratégias de Governo - PUCRS; Pós-graduado em Marketing de Serviços - ESPM/RS; Especializado em Gestão da Qualidade Total (TQM) - NKTS/Japão; Lead Assessor ISO 9000 - SGS-ICS; Engº Eletrônico - PUCRS. Atuou como Gerente de Desenvolvimento, de Processos e de Serviços em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacional, líderes de mercado. Professor universitário em cursos de MBA, Especialização e Extensão. Consultor sênior em Estratégia, Gestão, Qualidade e Inovação. Sócio da Intelligentia Assessoria Empresarial.

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