O mito do empreendedor bem sucedido, um ex-fracassado

Nestes tempos de empreendedorismo em alta, de startups, em especial na área da tecnologia, criou-se o mito de que o empreendedor bem sucedido de hoje é um ex-fracassado. Em alguns casos isso é fato, mas um fato não é uma regra geral estabelecida.

sucesso_fracassoAlbert Einstein já dizia que “se você nunca falhou, você nunca tentou algo novo.” Mas há uma grande diferença entre falha e fracasso. A falha permite aprendizado, o fracasso nos derruba inapelavelmente. Isso pode parecer apenas um jogo semântico, mas do ponto de vista de motivação entender a diferença muda tudo. Quando falhamos é porque algo não estava certo, quando fracassamos é porque estava tudo errado. Uma falha pode ser corrigida, um fracasso não.

No meio empresarial, fracasso, melhor seria dizer insucesso, faz parte de uma aposta de negócio. É o risco do empreendedor. Não basta ter uma ideia, um ótimo insight sobre um produto (seja um bem ou serviço), se essa ideia não puder ser explorada economicamente. Já abordei isso (ver ensaio O que é Inovação?), já sabemos que uma inovação é a exploração bem sucedida de uma ideia útil. Portanto, um empreendimento de sucesso, que tenha partido de uma ideia para inovação, é um produto de valor para algum cliente.

O fracasso não faz parte da vida dos empreendedores de sucesso. Alguns, mais ousados e ativos, sem dúvida vão passar por insucessos, mas isso não é fracasso, e muito menos mérito, é apenas uma consequência possível de uma aposta de risco. Sucesso é a criação de um novo negócio economicamente sustentado, que tem seu mérito na capacidade criativa e realizadora do empreendedor.

O insucesso, na maioria dos casos, é efeito de más escolhas, de “grandes ideias” não testadas, de falhas de gestão do empreendimento, de falta de estratégia mercadológica, enfim, de apostas às cegas. O empreendedor inovador, no geral sem experiência em tocar um negócio próprio, além de moldar e produzir bens ou serviços de valor precisará estruturar o negócio, organizando funções empresariais (pesquisa e desenvolvimento, marketing, produção, distribuição, serviços pós-venda, administração,…), liderando pessoas com objetivos comuns e gerenciando processos.

Assim, a transformação da ideia original em um produto desejado, e consequentemente num negócio bem sucedido, passa pelo aprendizado de boas práticas de inovação, estratégia e gestão. Essas, no caso de startups, começam por ferramentas e métodos para testar insights e ideias, identificar e entender quem são os clientes, saber como criar o mercado, quais serão os possíveis entraves a enfrentar, e por aí afora. Um método atual, testado e validado, é o do Desenvolvimento de Clientes. Nesse caminho, uma boa prática, é a definição do Produto Mínimo Viável (MVP, de Minimum Viable Product), que permite testar e validar a ideia. [em ensaio próximo abordarei em detalhes o MVP]

Com o MVP definido e validado, um método ágil e abrangente para a definição estratégica do empreendimento – encaminhando a criação do mercado e consolidação da empresa – é a geração do Modelo de Negócio. Aqui temos duas opções, o modelo de 4 elementos (ver Inovação de Modelo de Negócio: modelo das 4 caixas), ou o mais conhecido modelo dos 9 blocos construtivos constituindo o Business Model Canvas  (ver Inovação de Modelo de Negócio: modelo dos 9 blocos).

Sem boas práticas, sem método, tudo acaba passando por tentativa e erro, e assim facilmente se convive com a chance de fracasso. Portanto, para evitar o fracasso, para não validar o mito, é imprescindível apreender e aplicar métodos (de inovação, de estratégia e de gestão). Empreendimentos inovadores não precisam ser de alto risco, não é uma boa prática aceitar como inerente e esperar pelo fracasso. A aprendizagem organizacional sistemática (sobre falhas) é a verdadeira boa prática… É muito mais saudável ser um aprendiz do que um ex-fracassado.

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Sobre Robin Pagano

Pensador, palestrante e consultor sênior em Estratégia, Gestão e Inovação de negócio. Mestre em Eng. de Produção - UFRGS; Pós-graduado em Estudos de Políticas e Estratégias de Governo - PUCRS; Pós-graduado em Marketing de Serviços - ESPM/RS; Especializado em Gestão da Qualidade Total (TQM) - NKTS/Japão; Lead Assessor ISO 9000 - SGS-ICS; Engº Eletrônico - PUCRS. Atuou como Gerente de Desenvolvimento, de Processos e de Serviços em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacional, líderes de mercado. Professor universitário em cursos de MBA, Especialização e Extensão. Consultor sênior em Estratégia, Gestão, Qualidade e Inovação. Sócio da Intelligentia Assessoria Empresarial.

2 pensou em “O mito do empreendedor bem sucedido, um ex-fracassado

  1. Muito bom Robin,
    Conseguiste consolidar: como entregar um resultado real a partir de sua ‘ótima idéia’. Outra dica interessante, sobre a ótima experiência que estamos tendo com a Intelligentia, em como estabelecer uma cultura colaborativa com o ajuste do foco das lentes dos colaboradores na nossa startup.

    • Obrigado Cleandro,
      Comentários assim sempre são um estímulo a mais para avançarmos no estudo, desenvolvimento e aplicação de boas práticas. Estamos sintonizados, hoje mesmo estava pensando sobre a questão da cultura para inovação, que tem em seu cerne a cultura colaborativa, tanto internamente (interfuncionalmente) bem como com clientes do negócio… ainda vou explorar o tema em um novo ensaio.
      Fico feliz também com a confirmação dos frutos da parceria Intelligentia – Gabster.

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