Caso do método de gestão: o PDCA já era!

Certa feita, em uma de minhas aulas, como professor em um curso de MBA em Gestão Empresarial, ministrando a disciplina Gestão de Processos, fui confrontado com a veemente afirmação de um aluno: “O PDCA já era!”. Mas isso me permitiu esclarecer algo fundamental. Vamos ao ocorrido…

A disciplina que ministrava, de 30 horas-aula, tinha seis aulas programadas. Tenho por hábito retomar a aula seguinte a partir de uma breve revisão dos temas abordados nas aulas anteriores. Como trabalho a disciplina Gestão de Processos tendo como método base o PDCA, a primeira coisa que faço nessas revisões é desenhar o ciclo PDCA no quadro, para então rever as práticas já discutidas nas aulas anteriores localizando-as no método.

Pois bem, numa dessas revisões, no quinto encontro com a turma, com menos de um minuto de aula, um aluno se manifestou do fundo da sala, em alto e bom som, dizendo: “O PDCA já era!”. Fez isso sem sequer pedir licença ou se apresentar, dado que era a primeira aula da qual participava (digo isso apenas para contextualizar o porque de sua afirmação apenas na 5ª aula).

No mesmo instante pensei: “Opa! Uma bela provocação… Vamos ver no que dá.” Discussões, sem preconceitos, sempre permitem ensino e aprendizado de alguma coisa, oportunizados pela troca de conhecimentos e experiências presentes nesse processo. Então, larguei o desenho do PDCA, me virei procurando pelo aluno e perguntei: “Por que você está dizendo isso?”. A partir daí a conversa se desenrolou mais ou menos assim:

(Aluno) Eu li um livro onde o autor afirma isso. Ele diz que o PDCA já era porque o ‘P’ vem de problema, e as empresas precisam parar de ter problemas.

(Professor) Pode me dar o nome do livro? Pretendo acessá-lo para entender melhor o que está colocado ali.

(A) Não lembro.

(P) E o nome do autor, lembra?

(A) Também não. Mas concordo com ele que o PDCA já era.

(P) Certo, não é importante agora saber qual é o livro, mas sim esclarecer essa questão. Primeiro é preciso entender que problemas acontecem e continuarão acontecendo, mesmo com os melhores processos em ação; isso se deve a uma questão intrínseca à natureza, a variabilidade. Dito isso, como não conheço o contexto geral em que o referido autor coloca a afirmação sobre o PDCA, vou fazer uma inferência…

A partir daí comecei a explicar o que percebi há já algum tempo, que existe uma confusão no mundo dos negócios sobre o PDCA. Uns, sejam gestores que o aplicam, consultores, professores, estudiosos do assunto, etc., o entendem como um método de gestão, um ciclo de controle de processos. Outros o entendem como o Método de Análise e Solução de Problemas (conhecido pelo acrônimo MASP). O primeiro entendimento é o que chamo de visão ampla do PDCA, da qual compactuo. Ao segundo entendimento entendo como uma visão restrita, embora correta, do PDCA. Esclarecendo…

ciclo_pdcaNa visão ampla, como um método (ciclo) de gestão, partimos do ‘P’ (de Plan) etapa onde se devem planejar as metas e os meios (processos) que permitirão sua realização. Na etapa seguinte, no ‘D’ (de Do), passamos à fase de execução dos processos, não sem antes educar e treinar os executores nos mesmos. Avançando para a etapa do ‘C’ (de Check) são feitas as avaliações dos resultados alcançados em comparação com as metas planejadas. Se tudo estiver bem (resultado = meta) deve-se continuar a execução (D) conforme planejado, mas caso haja discrepâncias, passamos a etapa do ‘A’ (de Action), na qual se buscam as causas dos desvios (das metas) e sua eliminação.

pdca_do_maspPara a execução da etapa ‘A’, no PDCA de gestão, deve-se adotar um método. Aqui entra o MASP ou, como querem alguns, o PDCA com visão restrita. É importante observar que um método, com etapas sistemáticas, como o MASP, é um tipo de processo. E, como qualquer processo, pode ser “encaixado” no PDCA. Daí surgiu a visão restrita! Qualquer solução de problemas consistente deve ser (P)lanejada, executa(D)a, (C)hecada quanto a seu resultado e, quando efetivo, ter o processo que provocou o desvio (A)perfeiçoado. Assim, a etapas do MASP, encaixadas num PDCA, são: no (P), 1. enunciar o problema, 2. observar seus efeitos, 3. analisar as causas, 4. planejar a solução; no (D) 5. executar a solução; no (C), 6. verificar a efetividade da solução adotada; e no (A), 7. aperfeiçoar o processo padronizando a solução encontrada e 8. concluir.

Com isso, esse aluno, que claramente fez uma provocação, criou uma ótima oportunidade para esclarecer algo importantíssimo quanto ao PDCA. É melhor encará-lo como um método de gestão e, assim, aplicá-lo também à solução metódica de problemas, do que o entender e usar simplesmente como um método para solução de problemas.

Esse post foi publicado em Casos e marcado , por Robin Pagano. Guardar link permanente.

Sobre Robin Pagano

Conselheiro consultivo, palestrante, consultor, mentor, educador empresarial, escritor, nas áreas de estratégia, gestão e inovação. Mestre em Eng. de Produção - UFRGS; Pós-graduado em Estudos de Políticas e Estratégias de Governo - PUCRS; Pós-graduado em Marketing de Serviços - ESPM/RS; Especializado em Gestão da Qualidade Total (TQM) - NKTS/Japão; Lead Assessor ISO 9000 - SGS-ICS; Engº Eletrônico - PUCRS. Atuou como Gerente de Desenvolvimento, de Processos e de Serviços em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacional, líderes de mercado. Professor universitário em cursos de MBA, Especialização e Extensão. Consultor sênior em Estratégia, Gestão, Qualidade e Inovação. Sócio da Intelligentia Assessoria Empresarial.

Um comentário em “Caso do método de gestão: o PDCA já era!

  1. Muito esclarecedor o ponto de vista do professor. Assim, não existe chance de confusões à respeito de uma ferramenta tão eficaz. Parabéns

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

5 + 4 =