De tempos em tempos surgem novos conceitos tratando da temática inovação. Nem poderia ser diferente, afinal para inovar é necessário que se promovam formas inovadoras de obter os germens da inovação. Nesse sentido, um conceito que tem sido explorado é o da “descoberta casual”, ou seja, não planejada, não procurada, mas perspicaz, ao que se deu o nome de serendipidade.
O cunho da expressão serendipidade (serendipity) tem sido creditado ao romancista inglês Horace Walpole (1717 – 1797), inspirado no conto pérsio “The Three Princes of Serendip”. Esse conto explora o conceito da “descoberta fortuita” narrando a história dos príncipes em viagem e suas descobertas acidentais, sobre coisas que não estavam procurando, mas obtidas por sua sagacidade. A palavra Serendip, presente no título do conto, que originou a expressão serendipidade, é o antigo nome persa do Sri Lank.
Serendipidade é definida como a habilidade de fazer descobertas ao acaso, particularmente quando a atenção não esta focada em coisas diretamente relacionadas ao achado. Assim, existem dois aspectos críticos à serendipidade como fonte de inovação: chances e aptidão. As chances estão intrinsecamente ligadas à ocorrência de um feliz conjunto de condições, enquanto que a aptidão está associada à cognição necessária à transformação de uma chance inesperada em um insight para uma invenção útil (uma inovação).
A ideia da descoberta casual, por trás do em voga conceito serendipidade, foi explorada pelo cientista francês Louis Pasteur (1822 – 1895) que dizia que “o acaso só favorece a mente preparada”. Segundo alguns historiadores, a descoberta da vacina da cólera ocorreu por acaso: ao inocular uma envelhecida cultura de bactérias da cólera em galinhas, Pasteur e seus assistentes descobriram que isso não só não as infectava como ainda as tornavam mais resistentes a essa doença.
Alguns especialistas indicam que há três formas de ocorrência de serendipidade:
- Descobertas que não eram procuradas (p. ex., o forno de micro-ondas – inspirado na percepção do derretimento de uma barra de chocolate localizada próxima a aparelhos de radar em atividade)
- Descobertas que eram procuradas, mas acabaram encontradas de modo inesperado (p. ex., a lixa d´água – descoberta a partir de um pedido de amostras de papel e mineral por um inventor, que buscava encontrar um meio de evitar o excesso de poeira de lixamento de vidros com uso de água)
- Descobertas cuja aplicação acabou sendo diferente da busca original (p. ex., o post-it – criado com a aplicação de um adesivo fraco, desenvolvimento que não deu certo dado que o objetivo era chegar a um adesivo muito resistente)
Outras descobertas que podem ser atribuídas à serendipidade são o descaroçador de algodão, a penicilina, a fita crepe, o band-aid e a vulcanização. Desses exemplos podemos concluir que a serendipidade é um caminho para a realização de inovações radicais ou de ruptura (ver ensaio Inovação incremental ou radical?).
A diversidade é um importante aspecto para que a serendipidade aconteça. Isso fica evidente se percebermos que diversidade implica em mais conhecimento compartilhado e perspicácia amplificada, fatores que em conjunto potencializam descobertas fortuitas e a capacidade de conversão dessas em ideias para inovações.
Em se tratando de inovação, podemos entender que a serendipidade é um processo de criatividade que se manifesta a partir de uma inspiração. Nesse sentido, a inovação aberta cria janelas de oportunidade para que a serendipidade ocorra.