Já vimos que um método em voga para levar a inovação a cabo é o Design Thinking, e que um de seus fundamentos é o envolvimento do cliente nesse processo. Isso, a participação do cliente, em alguns meios e para alguns profissionais que lidam com inovação, tem sido tratada como uma novidade e um grande diferencial. Mas, para quem conhece os métodos para desenvolvimento de produtos originários do Japão, não há nada de novo nisso. Dentre esses métodos, destaca-se o Desdobramento da Função Qualidade, também conhecido pela sigla QFD (Quality Function Deployment).
O QFD é um método que permite transformar necessidades, desejos e expectativas dos clientes, descritos como requisitos da qualidade organizados e priorizados, em requisitos de projeto, que por sua vez serão desdobrados (detalhados) em requisitos de processos e, na sequência, requisitos de custos, requisitos de segurança, procedimentos de produção, e outros requisitos que se fizerem necessários.
O método baseia-se na aplicação de matrizes de relacionamento entre duas tabelas de requisitos (da qualidade vs. de projeto, de projeto vs. de processo, de processo vs. procedimentos, de projeto vs. custos-alvo, etc.). Isso garante foco nas prioridades, nas inter-relações entre os requisitos a cada desdobramento e nas correlações entre os requisitos de uma mesma etapa do processo. O foco nas prioridades assegura que os requisitos críticos serão levados adiante no processo de desdobramento (extração e conversão). O foco nas inter-relações garante que todos os requisitos da etapa anterior serão atendidos pelos requisitos desdobrados à etapa seguinte. O foco nas correlações evidencia os trade-offs, ou seja, quais são as relações positivas (ao atender um requisito outro fica facilitado) e negativas (ao atender um requisito outro fica prejudicado) a cada par de requisitos dos desdobramentos em análise.
O primeiro passo para uma aplicação produtiva e eficaz do método QFD é a obtenção de um entendimento claro, objetivo e inequívoco, das necessidades declaradas e intrínsecas (não declaradas) dos clientes. Portanto, esse deve ser envolvido no processo, pois é a partir de sua voz (ver ensaio A Voz do Cliente: inovação como solução) que os requisitos da qualidade (dos clientes) serão definidos e priorizados.
A compreensão da voz do cliente será obtida por meio de pesquisa junto aos mesmos, onde devem ser consideradas duas variáveis na definição do método de coleta de informações e dados: o grau de interação entre pesquisador e cliente e a proximidade com o ambiente (de uso do produto por parte) do cliente. Por exemplo, quando há uma baixa interação e uma grande proximidade com o ambiente, a pesquisa deve ser realizada por processos de observação. De outra forma, quando há alta interação e distanciamento do ambiente, a pesquisa deve considerar a aplicação de questões abertas.
Definidas as características (atributos) da qualidade essas devem ser classificadas (ver ensaio Inovação a partir da Voz do Cliente: como identificar?) e priorizadas, transformando-se então nos requisitos da qualidade – que incluem oportunidades de inovações – a serem considerados na aplicação do QFD.
Uma das grandes vantagens do método QFD é o registro natural de todo o processo de desdobramento, garantindo-se a preservação do histórico do desenvolvimento do produto sem a necessidade de criação de documentação adicional, o que sempre é um problema. Outra vantagem é a visão sistêmica de todo o processo de desenvolvimento, desde a pesquisa de campo (de mercado) até a produção e entrega do produto (sejam bens e/ou serviços), o que passa pela participação de todas as partes envolvidas (dos clientes às diversas funções empresariais).
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Muito boa dica… Parabéns pelo blog!
Abraços
Juan
Muito bom o post e as dicas, parabéns!
Continuarei acompanhando.
Juan
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