Inovação nas PME (Empresas de Pequeno e Médio porte)

Um mantra dos negócios neste início de século XXI é que sua empresa precisa um processo de inovação ágil para avançar em sua competitividade. Isso pode ou não ser uma verdade, nem todos os negócios precisam inovar.

Por exemplo, em negócios que entregam produtos ou serviços essenciais, como uma padaria, basta manter a qualidade do produto (o pãozinho de cada dia), um serviço atencioso (cordial e prestativo), num ambiente adequado (higiênico e organizado). Na pior das hipóteses, o que a padaria de nosso exemplo precisa fazer é melhorar sua produtividade, o conhecido “fazer mais com menos”, produzir mais pães com menos esforço, menos gastos, talvez produzir pães quentinhos numa frequência maior ou em horários em que são mais demandados.
(em tempo: alguns chamariam essa melhoria na produtividade de inovação incremental ou de sustentação, mas essa é outra discussão…)

Contudo, é fato que se a empresa inovar terá vantagem competitiva sobre seus concorrentes. Antes de tudo precisamos ter em mente que inovar é “produzir algo útil a partir de uma ideia original”, sendo utilidade entendida como algo de que o público-alvo, pessoas ou empresas, venha querer usufruir, percebendo seus benefícios.

Então a questão que se impõe às pequenas e médias empresas (PME), que nem sempre têm recursos financeiros, competência estabelecida, pessoal disponível, etc., é como podem produzir inovação sem que isso exija grandes investimentos e/ou contratação de especialistas. Ou seja, como uma PME pode gerar inovação como fazem as startups, empresas embrionárias, que em geral também não têm grandes recursos para investir, mas têm a atitude, a coragem e a disposição de empreender esforços de desenvolvimento a partir de uma ideia original.

Nessa linha de raciocínio, tem sido muito comum falar em empreendedorismo de inovação, a atividade de colocar ideias em andamento com predisposição em assumir riscos, aceitar desafios, levando à criação de inovações para o negócio e sua linha de produtos, ou mesmo, novos negócios para a empresa.

E como se faz isso sem recursos, ou com recursos escassos? Adotando um modelo de inovação ágil, num processo de geração de conceitos, validação, aprendizado e ajustes, em ciclos curtos de ação. Mas, como colocar isso em prática? Um caminho possível é estabelecendo um processo de intraempreendedorismo, trazendo para a empresa o modelo ágil das startups.

Primeiro é preciso estabelecer um objetivo para a inovação, seja para resolver um problema de mercado identificado ainda sem solução, seja para executar um trabalho a ser feito para o qual a empresa não encontrou o como fazer.

Em segundo lugar, um caminho seria buscar aproximação com empreendedores dispostos a correr riscos junto com a empresa num processo de inovação aberta. Que riscos? Empreender esforço na busca e desenvolvimento de ideias que possa produzir uma solução inovadora que resolve o problema, que faz o trabalho necessário, sabendo que na eventualidade de não se chegar a uma solução não haverá o prêmio esperado, o produto no mercado gerando receitas e, portanto, ganhos financeiros para ambas as partes. Nesse caso, o prêmio fica restrito ao aprendizado que será útil a um próximo empreendimento.

E, para que isso funcione, constituir uma equipe de inovação com pessoal próprio associado aos empreendedores externos, adotar um processo de inovação ágil (fluxo de atividades), definir um prazo alvo para cada avanço, estabelecer as regras de ganhos para ambas as partes com o sucesso da ação, determinar a forma de acompanhamento e tomada de decisão sobre o andamento do processo de inovação (agenda, pontos de checagem,…).

Esse processo de inovação ágil em empresas estabelecidas, também conhecido como intraempreendedorismo, que fará sua empresa avançar em competitividade, passa por três fases: Desenvolvimento Tecnológico, Desenvolvimento Mercadológico e Desenvolvimento Organizacional. Cada fase terá o andamento em etapas. No Desenvolvimento Tecnológico são três as etapas: definir o problema, explorar a solução e modelar o negócio. No Desenvolvimento Mercadológico também temos três etapas: lançar a solução no mercado, planejar o crescimento no mercado de foco inicial e expandir o mercado. E, no Desenvolvimento Organizacional são duas as etapas: consolidar o novo empreendimento, cuidando da gestão de seus processos do dia a dia e do desenvolvimento do pessoal que a conduzirá.

No intraempreendedorismo essas etapas não são necessariamente percorridas de forma linear, sendo comum antecipar etapas ou retrocessos à etapa anterior para ajustes a partir de aprendizados gerados na etapa recém vencida.

Mãos à inovação ágil!

Você sabe o que é inovação?

Possivelmente, na história dos negócios, a palavra inovação nunca esteve tão em evidência. Todos falam em inovação, de empreendedores a consultores, de empresários a gestores, de especialistas a colunistas de negócios. Contudo, em muitos casos em que a expressão é usada há uma grande distorção sobre seu conceito, sobre os tipos de inovação e seus exemplos. Você sabe o que é inovação?

Sem um entendimento objetivo do conceito, sem compreensão de suas vertentes, o desenvolvimento da inovação pode levar a equívocos, a caminhos tortuosos, por vezes desastrosos.

Depois de muito estudar, pesquisar e compilar ideias e definições sobre inovação, é possível afirmar que uma definição que abrange o essencial do tema, ao mesmo tempo ampla e específica, é “inovação é a exploração bem-sucedida de uma ideia original útil”.

Para entender essa definição com clareza, vamos do fim para o início:

– “útil”, a questão da utilidade é para diferenciar inovação de invenção. Uma invenção pode ser fruto apenas da curiosidade de um inventor, sem qualquer intenção de aplicação prática na vida real. Por sua vez uma inovação precisa ter aplicabilidade, deve resolver um problema específico ou realizar um trabalho demandado até então sem solução, portanto deve ser útil a alguém.

– “ideia original”, é a essência de uma inovação, algo até ali ainda não pensado, muito menos apresentado ao público ou colocado em prática.

– “exploração bem-sucedida”, pode ser entendida como a exploração comercial, onde o produto (bem ou serviço) tem compradores, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Por outro lado, também pode ser entendida como a exploração social, onde a solução inovadora é direcionada ao atendimento de necessidades sociais específicas, à solução de carências ou melhoria da qualidade de vida dos cidadãos aos quais se direciona.

E ainda, para você que já sabe o que é de inovação, precisa saber que essa ação pode ser conduzida por duas linhas de desenvolvimento: inovação incremental e inovação radical.

Inovação Incremental (ou de Sustentação) é o tipo de inovação onde alguma nova funcionalidade é incorporada a um produto inovador já existente. Por ex., no caso do serviço UBER de acesso a motoristas particulares via aplicativo, o lançamento de categorias de serviços (UBER X, UBER Black,…) ou do serviço alternativo de entregas (UBER Eats,…). No caso de um produto, como por exemplo uma TV digital, a incorporação de funcionalidades como o espelhamento da tela de um smartphone, a Smart TV, etc.

Inovação Radical é algo inédito, um bem ou um serviço com características inovadoras que, normalmente, surpreendem o mercado. São duas as possibilidades nessa linha de inovação: inovação de ruptura e inovação disruptiva.

Inovação (Radical) de Ruptura é aquela em que há uma quebra de paradigma, termo desenvolvido por Thomas Kuhn em seu clássico livro A Estrutura das Revoluções Científicas, onde o autor afirma que a ciência passa por revoluções periódicas, ao que denominou de “mudanças de paradigma”. É o tipo de inovação que pode surgir de processos elaborados de pesquisa & desenvolvimento, com custo elevado, por vezes a fundo perdido e grandes riscos ao inovador. Contudo, quando bem-sucedida, traz enorme vantagem competitiva ao empreendimento, difícil de ser imitada num primeiro momento (seja pela dificuldade tecnológica, por altos custos envolvidos ou por patentes registradas). Exemplos desse tipo de inovação são o serviço de telefonia móvel, motores automotivos elétricos, impressoras 3D, diagnósticos de saúde à distância, foguetes reutilizáveis, etc.

Inovação (Radical) Disruptiva, por sua vez, permite que empreendedores com poucos recursos, sem correr grandes riscos, possam desafiar empresas estabelecidas. Conceito cunhado por Clayton Christensen, explorado no livro O Dilema da Inovação – quando as novas tecnologias levam empresas ao fracasso, são inovações direcionadas a um público mal atendido ou negligenciado pelas soluções existentes, seja por seu elevado preço de aquisição ou dificuldade de acesso. Num primeiro momento essas inovações podem ser percebidas como de baixa qualidade por não terem todas as funcionalidades das soluções existentes, mas com o tempo vão ganhando escala e com isso investimento em melhorias (inovações incrementais). Então, acabam por atender também ao público das soluções existentes, momento em que a disrupção acontece. Alguns exemplos são o sistema operacional Linux, plataforma de hospedagens Airbnb, netbooks (ou subnotebooks), etc.

Agora que você sabe o que é inovação, e com qual tipo lidar, que a semente da inovação, da inventividade útil, possa florescer em empreendedores potenciais e empresas de pequeno e médio porte que até aqui achavam não ter como investir nessa atividade essencial à competitividade de seus negócios.

Empreendedorismo de inovação, a 4ª Revolução Industrial

De tempos em tempos surgem movimentos no mundo dos negócios que mudam tudo. Isso é fruto natural da evolução humana, com o surgimento de novas tecnologias que provocam mudanças em conceitos, costumes, necessidades e demandas.

Desde a primeira metade do século 18 a humanidade já passou por quatro grandes movimentos, as revoluções industriais. A primeira revolução ocorreu com o surgimento da máquina a vapor que promoveu a mecanização da indústria, com destaque para a tecelagem. A segunda revolução foi catalisada pelo advento da energia elétrica, que levou luz às cidades e bondes movidos a eletricidade, e a exploração do petróleo. A terceira revolução foi catapultada com o surgimento de computadores e robôs, alavancando a integração e automação de processos.

Estamos na 4ª Revolução Industrial, na qual avanços na internet e em informatização, e tecnologias derivadas, criaram um mundo de oportunidades para inovações em soluções para os problemas humanos. Temos a internet das coisas, a inteligência artificial, o big data, a realidade aumentada, a impressão 3D, e outras tecnologias surgindo a cada dia numa velocidade e profusão nunca antes vista.

Nessa revolução o movimento mais evidente é o do empreendedorismo, em especial o empreendedorismo de inovação. Explorando as novas tecnologias ganham espaço empreendedores dispostos a fazer a diferença, os mais audaciosos com a ambição de mudar o mundo. As ideias estão no ar, as áreas de negócios baseadas em tecnologia vão se multiplicando, rearranjando a ganhando protagonismo.

Surgiram segmentos de empresas “techs” (de technological), com modelos de negócio baseados em tecnologia digital: edtechs (no segmento de educação), fintechs (na área financeira), retailtechs (do varejo), autotechs (de mobilidade), agrotechs (no agronegócio), lawtechs (no campo jurídico), healthtechs (de saúde), insurtechs (em seguros), hrtechs (nos recursos humanos), e outras. A velocidade da criação de novos empreendimentos nessas áreas é grande, com significativa e real possibilidade de rápidos ganhos de escala.

Assim, entrou em campo com força a criação de soluções inovadoras para os problemas existentes, para o trabalho a ser feito que, facilitada por tecnologia digital, moldou um ambiente de negócios dinâmico onde inovação é um imperativo. Ou as empresas estabelecidas, incluídas aí as pequenas e médias, inovam com agilidade por conta própria, ou se associam a empreendedores para, em conjunto, estabelecerem processos de intraempreendedorismo de inovação.

Como havia previsto Mark Andreessen (fundador da Netscape, browser de internet pioneiro) nos idos dos anos 90, “o software está devorando o mundo”. Empresas com soluções digitais estão na dianteira da criação de valor econômico. E sua empresa, está dentro ou fora desse movimento? Ou aprende a surfar na onda do empreendedorismo de inovação ou, mais cedo ou mais tarde, será engolida por uma big wave, uma imensa onda com força arrasadora.

Por que algumas startups não prosperam?

São inúmeras as causas de alguns empreendimentos embrionários, como startups, não conseguirem se estabelecer, não avançarem. Não basta encontrar um problema de mercado, para determinado segmento e ter uma ideia de como solucioná-lo. Não basta encontrar sócios aderentes à ideia, que se associem fundando a empresa, formando o núcleo pensante do novo negócio. Não basta empolgação com a ideia e a firme crença de que a solução vislumbrada será bem-sucedida. Nem a falta de experiência do time quanto a condução de negócios ou, por outro lado, nem a expertise de um time altamente experimentado são, respectivamente, causa de fracasso ou garantia de sucesso.

FoundersÉ mais do que conhecido que uma das principais causas, se não a principal, pelo fracasso de startups, está na (in)capacidade de execução. Para evitar ou mitigar essa causa, é imprescindível entender que há três aspectos-chave, relacionados aos fundadores, que devem estar bem-resolvidos entre o time para que o novo empreendimento tenha chance de prosperar: a compreensão sobre seus papéis à frente do novo negócio, as atitudes de cada membro do time, e o perfil comportamental inerente a cada fundador.

Com relação aos papéis, é importante compreender que sócio, executivo e empreendedor são funções distintas. Um sócio pode simplesmente ser alguém disposto a investir capital financeiro na transformação da ideia em uma solução de mercado, ajudando a pensar o desenho do negócio, mas sem interesse ou disponibilidade para trabalhar ativamente na realização do empreendimento. O papel de executivo é o da figura que assume a responsabilidade por determinada função empresarial (por ex., vendas, operação, administração, finanças, marketing, logística,…), mas que não irá necessariamente à ação no dia a dia, restringindo-se a desenhar diretrizes que serão repassadas a uma equipe operacional em formação. Por sua vez, o empreendedor é o papel hands-on (mãos na massa), o sujeito que colocará toda sua energia e esforços para fazer o negócio acontecer.

Um empreendimento de sucesso, uma startup que prospera, dado que os três papéis são necessários, é aquele cujos fundadores pensam e agem como sócio (investidor e pensador estratégico), como executivo (formulador estratégico e arquiteto tático) e operacional (desenvolvedor da solução e construtor do mercado). Se essa compreensão de papéis não for bem discutida e ajustada na largada do empreendimento a chance de sucesso fica em sério risco.

Quanto às atitudes, temos basicamente dois fatores que devem estar transparentes e bem elaborados entre o time de fundadores, o alinhamento intencional e a disposição para o trabalho do dia a dia. É vital chegar a um entendimento sobre a intenção e a disponibilidade de cada fundador para que o novo negócio avance, evitando-se discussões improdutivas.

  • O alinhamento intencional vem da razão da adesão de cada fundador ao empreendimento, o que cada um quer alcançar com a iniciativa, com a exposição honesta e aberta de objetivos individuais. Podem existir fundadores que desejam erigir um negócio como sócios e se manter como executivos à frente da nova empresa, fazendo-a prosperar. Podem existir fundadores que desejam se tornar empreendedores seriais, que intencionam criar um negócio, fazê-lo crescer e, então, passá-lo adiante e partir para um novo desafio. E, podem existir fundadores que desejam garantir sua tranquilidade financeira futura, a partir da venda do negócio consolidado e bem-sucedido, saindo fora de seu dia a dia, na melhor das hipóteses permanecendo como membros do conselho de administração.
  • A disposição para o trabalho está na capacidade e disponibilidade de empreender esforços para que a ideia possa progredir, de usar horas em atividades rotineiras imprescindíveis à construção de um novo negócio. Quanto de horas e esforço cada fundador vai destinar ao trabalho de construção da solução e ida inicial ao mercado é uma questão de compreensão da necessidade, passando pela distribuição de tarefas e contratação de metas, tudo estabelecido de comum acordo.

Concernente ao perfil comportamental, estudos sobre o comportamento humano demonstram que há quatro traços marcantes na personalidade dos indivíduos. Esses quatro traços, trazidos para o ambiente empresarial, deram origem ao modelo DISC, que são as iniciais de Dominância, Influência, Estabilidade e Conformidade, características que podem ser mais bem entendidas, respectivamente, como perfis executor, comunicador, planejador e analista. Cada indivíduo tem essas quatro características inerentes ao seu perfil, mas com graus de preferência variáveis. De modo simplificado, cada perfil comportamental têm a seguinte preferência quanto à ação:

  • O Executor quer fazer rápido, é o sujeito que vai para a ação sem titubear, é onde se sente confortável
  • O Comunicador quer fazer diferente, levando o indivíduo a querer discutir tudo, quase sempre trazendo um contraponto às ideias de outros, promovendo discussões dialéticas
  • O Planejador quer fazer junto, um comportamento que privilegia a busca pelo melhor caminho, que precisa desenhar um plano de ações para que as ideias possam ser levadas adiante
  • O Analista quer fazer certo, uma pessoa que necessita colocar em prática um estudo mais detalhado sobre fatos e dados, sobre cenários, antes de uma tomada de decisão

Todos os quatro perfis são importantes para um negócio, o problema se dá quando não há uma boa distribuição de perfis, um equilíbrio comportamental, entre os fundadores. Num empreendimento embrionário, numa startup, em suas etapas iniciais de concepção e validação da solução, e desenho do modelo de negócio, os perfis comunicador e analista são muito úteis, contando com o apoio do perfil executor. Já nas etapas de início da operação e criação do mercado, precisamos de empreendedores com os perfis planejador e executor, sendo que o perfil comunicador pode ter muita dificuldade de sair do campo das ideias para a ação e o perfil analista ter resistência em deixar estudos aprofundados de dados e análises para mais à frente. De qualquer forma, como negócios são dinâmicos, os quatro perfis serão úteis ciclicamente.

Certamente há outros aspectos que podem impactar o sucesso do empreendimento, como falta de competência em áreas estratégicas ao novo negócio, por ex., no marketing digital, na comercialização, no relacionamento institucional e outras. Contudo, com um time que entende e assume os papéis necessários, que tem atitudes assertivas e que reconhece a vantagem em equilibrar preferências comportamentais, essas competências podem ser rapidamente alcançadas com vontade de aprender desenvolvendo novas habilidades entre o time de fundadores.

Sucesso passado de um time experimentado como executivos, gestores, ou mesmo consultores, tampouco pode ser confundido com capacidade de execução. Empreendedorismo de inovação exige abertura a mudança comportamental, novos aprendizados, atitude mãos na massa, sem dias e horários rígidos para o trabalho, e muito esforço e resiliência ao longo da jornada.

* Publicado originalmente no LinkedIn

Gestão 4.0: a falácia criada sobre times autônomos e decisão ágil

Nesta era de empreendedorismo, startups, inovações disruptivas e manufatura 4.0, não seja ludibriado por falsas afirmações sobre agilidade. A gestão ágil ou gestão 4.0, alegadamente realizada por times autônomos com tomada de decisão ágil, não implica abandonar práticas de gestão de excelência, mais do que validadas, como por exemplo mapear e otimizar processos. Estão fazendo uma confusão, proposital ou não, entre atividades de inovação e de rotina, mas são coisas diferentes!

O bom senso – que parece ser o que se espera de times autônomos, supostamente sem processos minimamente definidos – não é uma boa prática, pois todos acreditam que o têm, mas cada um o tem a seu jeito, a partir de suas crenças e experiências. Portanto, apenas bom senso, atuando sobre as atividades dos times, muito provavelmente resultará em um sistema de trabalho caótico, com resultados imprevisíveis.

Para inovar, com a agilidade exigida nos tempos atuais, criatividade, experimentos e pivotagens, em ciclos rápidos, é o que deve ser posto em prática. Mas essas ações têm uma lógica para funcionar, há um método (ou seja, um processo) de inovação aí, mesmo que implícito. As práticas e ferramentas aplicadas devem estar bem integradas, e ser metódica e sistematicamente utilizadas.

Na operação rotineira, no dia a dia de um negócio, previsibilidade é o que se busca. Entregas consistentes, em conformidade com o que foi prometido (a proposta de valor), é fruto de processos bem desenhados (mapeados) e executados sem desvios. Esse é o alicerce que garante sustentabilidade ao negócio. No surgimento de efeitos indesejados, entregas fora do padrão, e elas acontecerão, uma solução deve ser adotada com agilidade.

Times autônomos e decisão ágil são muito bem-vindos! Na operação de rotina, processos de trabalho devem ser bem conhecidos e executados com mestria. Sempre que necessário, para ganhos de competitividade e ampliação da captura de valor para o negócio, os processos (mapeados) devem ser agilmente mudados (otimizados), e não há ninguém melhor do que quem os executa para saber onde mudar, o que melhorar.

Autonomia responsável implica autoridade sobre ações (processos e procedimentos, estejam formalizados ou não, mas bem conhecidos) com restrições claras e responsabilização sobre os resultados. É nesse contexto que estruturas organizacionais altamente hierarquizadas de comando e controle podem sair de cena, levando à autonomia dos times, que tomam decisões ágeis e promovem mudanças responsáveis, com ganhos incrementais, que agregam valor ao negócio.

Algum nível de burocracia (determinadas rotinas, autoridade e responsabilidades esclarecidas) é necessário se queremos harmonia e produtividade nas atividades, ações e decisões de grupos de pessoas (times autônomos). Burocracia em excesso bloqueia avanços, falta de burocracia gera caos. A sabedoria está em encontrar o equilíbrio adequado ao negócio.